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01/03/2012

Área em Coordenadas Polares

Houve uma revolução na matemática depois de Descartes, onde foi possível escrever e resolver equações em coordenadas cartesianas; denotar um ponto por meio de um par ordenado (x,y) e assim a construção de gráficos para ilustrar as curvas. Em algumas situações é mais conveniente usar um outro sistema de coordenadas, como as coordenadas polares.

[Figura 1]

Antes de continuar a leitura deste artigo, sugiro que leiam sobre O Sistema de Coordenadas Polares escrito pelo Professor Mestre Paulo Sérgio, explanando brilhantemente sobre o assunto.

Para estabelecermos um sistema de coordenadas polares no plano, primeiro denotemos um ponto fixo O que será o pólo e um raio r, que é uma semirreta orientada com origem em O, que chamamos de eixo polar. Um ângulo na posição padrão tem vértice no pólo e o eixo polar como seu lado inicial.

Seja P um ponto genérico no plano e seja r a distância entre P e o pólo. Assim:
r=|¯OP|
Se P0, então P pertence a uma única semi-reta com origem em O constituindo o lado terminal do ângulo. Este ângulo é denotado por θ e poderá ser em graus ou em radianos. Assim, o par ordenado do ponto P em coordenadas polares é indicado como:
P=(r,θ)
As coordenadas polares estabelecem a posição de um ponto P em relação a uma grade, formada por círculos concêntricos com centro no pólo e semirretas partindo de O. O valor de r localiza P num círculo de raio r; o valor de θ localiza P numa semirreta que é o lado terminal do ângulo θ; e P é determinado pela intersecção do círculo com a semirreta.

O gráfico de uma equação polar consiste em todos os pontos P do plano que tem pelo menos um par de coordenadas polares (r,θ) satisfazendo a equação.

Da mesma forma que podemos determinar a área de uma região sob a curva num plano cartesiano aplicando o conceito de integral definida, podemos determinar a área de uma região plana em coordenadas polares compreendia entre as semirretas que determinam o ângulo θ.

Considere a figura abaixo, cuja equação polar é r=f(θ), onde f é uma função contínua. Quando θ cresce de θ=α para θ=β, o ponto P=(f(θ),θ) se desloca ao longo da curva polar de (f(α),α) para (f(β),β) e o segmento de reta OP percorre uma região plana. Esta é a região compreendida pela curva polar entre as semirretas que determinam o ângulo θ, ou seja, entre θ=α e θ=β.

[Figura 2]

A região polar mais simples, talvez, seja o setor circular compreendido pelo círculo de raio r entre θ=α e θ=β:

[Figura 3]

Sabemos que a área de um círculo de raio r é dada por:
AC=π r2
Assim, a área do setor ocupa a fração βα2π de todo o círculo e a área do setor será:
A=π r2(βα)2π=12r2(βα)
Geralmente, mesmo que a curva polar não seja um círculo, quando o ângulo cresce de θ para θ+dθ, ou seja, tem uma variação infinitesimal, o segmento OP percorrerá uma região infinitesimal que podemos tomá-la como um setor infinitesimal de um círculo de raio r=f(θ):

[Figura 4]

Quando Δθ for infinitesimal, então a área infinitesimal do setor será dada por:
dA=12|r2|dθ=12r2dθ=12[f(θ)]2dθ
Para que tenhamos a área total da região desejada, devemos somar estes infinitésimos, isto é, integramos as áreas de todos estes setores infinitesimais, desde θ=α a θ=β. Assim, teremos:
A=βαdA=βα12[f(θ)]2dθ=12βα[f(θ)]2dθ
Podemos representar esta fórmula sob a forma:
12βαr2dθ

Exemplo 1:

Encontrar a área do hemisfério superior da região compreendida pela curva polar cardioide, cuja equação é r=3(1+cos(θ)).

[Figura 5]

Quando θ varia de 0 a π, o segmento OP percorre o hemisfério superior da região interior à cardioide. Portanto, a área A  da região será dada por:
A=12βαr2dθ=12βα[3(1+cos(θ))]2dθ A=12βα9(1+2cos(θ)+cos2(θ))dθ A=92βα(1+2cos(θ)+cos2(θ))dθ A=92[(θ+2 sen(θ)+θ2+sen(2θ)4)]π0 A=92(π+0+π2+0) A=27π4 unidades de área

Exemplo 2:

Encontrar a área da região compreendida pela lemniscata de equação r2=4cos(2θ).

[Figura 6]

Vamos considerar somente 1/4 da lemniscata, já que é simétrica em relação ao pólo devido ao grau 2 de r. Assim, vamos considerar a porção da lemniscata para a qual:
r=2 cos(2θ)
Quando θ=0 e r=2, e como θ cresce, o ponto P=(r,θ) se desloca para a esquerda ao longo da parte superior da lemniscata até chegar ao pólo O, quando θ=π/4. Assim, o segmento OP percorre um quarto da área:
A=4(A=12βαr2dθ)=2βαr2dθ A=2π/40(2cos(2θ))2dθ=2π/404cos(2θ)dθ A=[4 sen(2θ)]π/40=4 unidades de área
Este exemplo mostra que devemos saber o comportamento da curva para que possamos definir os limites de integração.

Quando utilizamos a fórmula 12βαr2dθ para encontrar a área de uma região compreendida por uma curva polar r=f(θ) num intervalo Δθ, devemos estar certos que αβ e que o segmento de reta radial OP, percorre apenas uma vez cada ponto no interior da região. Por exemplo, se quisermos determinar a área total no interior do limaçon r=23 sen(θ), seria incorreto integrar de 0 a 2π, pois quando θ vai de 0 a 2π, o segmento OP percorre duas vezes todos os pontos pertencentes ao laço interior.

Exemplo 3:

Encontrar a área do laço interior ao limaçon de equação r=23 sen(θ).

[Figura 7]

Quando theta=0, r=2, o ponto P(r,θ)=(2,0) se encontra no eixo polar. Quando θ começa acrescer, r=23 sen(θ) começa a decrescer, atingindo 0 quando θ=sen1(23), que é aproximadamente 41,8°. Neste ponto, o segmento OP inicia o percurso da região desejada. Quando θ atinge o valor de π/2, então r=1 e o segmento de reta OP, cujos pontos se movem para baixo, percorre exatamente metade a área desejada. Desta forma, a área da região será:
A=2[12π/2sen1(2/3)(23 sen(θ))2dθ] A=π/2sen1(2/3)(412 sen(θ)+9 sen2(θ))dθ A=[4θ+12cos(θ)+92θ94sen(2θ)]π/2sen1(2/3) A=17π4[172sen1(23)+12cos(sen1(23))94sen(2 sen1(23))]
sendo:
cos(sen1(23))=53
e
sen(2 sen1(2/3))=2 sen(sen1(2/3))cos(sen1(2/3))=459
Também ocorre com frequência a necessidade de encontrarmos a área de uma região plana compreendida por duas curvas, como por exemplo r=f(θ) e r=g(θ) entre dois pontos sucessivos de intersecção P1 e P2, onde P1=(r1,α) e P2=(r2,β):

[Figura 8]

Se a região compreendida pela curva r=g(θ) entre P1 e P2 está contida na região compreendida pela curva r=f(θ) entre P1 e P2, então a área desejada A é apenas a diferença de áreas das duas regiões:
A=12βα[f(θ)]2dθ12βα[g(θ)]2dθ A=12βα[[f(θ)]2[g(θ)]2]dθ

Exemplo 4:

Encontrar a área da região interior ao círculo r=4cos(θ), que seja exterior ao círculo r=2.

[Figura 9]

Os dois círculos se interceptam em P1=(2,π/3) e P2=(2,π/3). A área A da região procurada é dada por:
A=12π/3π/3[(4cos(θ))2]dθ A=12π/3π/3[16cos2(θ)4]dθ A=12π/3π/3[162(1+cos(2θ)4)]dθ A=12π/3π/3[4+8cos(2θ)]dθ A=[2(θ+2 sen(2θ))]π/3π/3 A=2[(π3+32)(π332)] A=4π3+23 unidades de área

Referências:

[1] Cálculo V1 - Munem-Foulis

Veja mais:

O cálculo integral
O sistema de coordenadas polares
Construção da espiral de Arquimedes com régua e compasso



COMO REFERENCIAR ESSE ARTIGO: Título: Área em Coordenadas Polares. Publicado por Kleber Kilhian em 01/03/2012. URL: . Leia os Termos de uso.


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19 comentários:

  1. Excelente post, muito bem explicado com figuras impecáveis. Para ficar perfeito corrige a palavra no Exmplo 3 "acrescer". Obrigado pela dupla citação do post sobre coordenadas polares. Irei alterar o post acrescentando também este link. Abraços.

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    1. Agrdeço Paulo pelo elogio. Dá um pouco de trabalho fazer estas imagens, mas no final, vale a pena. Vou corrigir o erro, obrigado.

      Um abraço.

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  2. Oi Kleber,

    Quando comecei a ler seu artigo e quando dei por mim, já estava estudando seriamente, dado a clareza de exposição, de forma que, reforçei o que sabia, aprendi o que não sabia e ainda, aumentou minha convicção que O BARICENTRO DA MENTE é TOP 10! ( Não TOP 10 fatorial, mas dependendo do período, até mesmo TOP 10^0 . E que belos exemplos gráficos, a rosa de grandi, o limaçon de pascal, etc!!

    Parabéns!

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    1. Aloísio, Obrigado por seu comentário. Um pouco exagerado, mas tudo bem. Obrigado amigo.

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  3. Kleber,

    Excelente postagem. O Aloísio não exagera tanto assim não. Um artigo organizado como este facilita a compreensão. Um texto cheio de algoritmos desorganizados podem se tornar complicado mesmo para aqueles que dominam as teorias matemáticas.

    Abraço!

    PS:Estas figuras são construídas usando o Geogebra?

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  4. Olá Edigley,

    Obrigado pelo comentário e elogios. Procuro ser o mais didático possível.

    A primeira imagem, da espiral de Arquimedes, foi feita no software "Régua e Compasso", similar ao Geogebra. As demais foram feitas no Corel Draw. Para a Cardióide, a Lemniscata e o Limaçon, plotei as imagens na Wolfram, colei no Corel, desenhei as imagens por cima para manter as curvas originais e depois apaguei a imagem colada. Aí é só exportar em jpg.

    Abraços.

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  5. Ah, ok! É que encontrei um tutorial meio antigo do GeoGebra, onde é mostrado a construção de gráficos de funções derivadas e outros e pensei que iria gostar de atualizar ele.

    Abraço!

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  6. Anônimo3/1/14 17:32

    Olá,gostei muito da explanação.Me ocorreu uma dúvida, no exemplo 2 , o qual seria a variação do ângulo θ para varrer toda a figura e não só 14 da figura? abraços

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    1. você não leu o artigo todo. Nele, diz que o segmento OP não pode passar duas vezes pelo mesmo ponto da curva. Se varrermos toda a figura, o segmento passará duas vezes pelo mesmo ponto.

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  7. Anônimo7/9/15 17:34

    Há alguma outra forma de achar os limites de integração no Exemplo 3?
    Não consegui entender pq o θ = sen–1(2/3) foi um desses limites...
    Caso possível, meu email é brum.felipe@hotmail.com
    Agradeço

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  8. Boa tarde prezados,

    estou estudando aplicações de integrais e fiquei preso em um questão:
    Uma construtora pretende fazer a fachada de um edifício cuja área é inferior a 2cm² e inferior a 1m², sabendo que a fachada é limitada por uma parábola que é inferior a 3m e por uma reta que é superior a 1m e que a parábola se encontra na parte posterior da fachada e a reta na parte inferior. calcule a área desta fachada.

    estou maluco com essa questão, já tem dois dias que to tentando resolve-la.

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    Respostas
    1. Deildo, não entendi a questão.

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    2. Uma construtora pretende fazer a fachada de um edifício cuja área é inferior a 2m² e superior a 1m², sabendo que a fachada é limitada por uma parábola que é inferior a 3m e por uma reta que é superior a 1m e que a parábola se encontra na parte posterior da fachada e a reta na parte inferior. calcule a área desta fachada. Ai a questão certa

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  9. Uma construtora pretende fazer a fachada de um edifício cuja área é inferior a 2m² e superior a 1m², sabendo que a fachada é limitada por uma parábola que é inferior a 3m e por uma reta que é superior a 1m e que a parábola se encontra na parte posterior da fachada e a reta na parte inferior. calcule a área desta fachada.

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  10. Artigo perfeito e completo. Muito obrigado.

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  11. No exemplo para calcular a área da figura de limaçon, na primeira linha, faltou elevar ao quadrado o termo (2-3senθ)

    Chacon Alex.

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    1. Passou despercebido essa. Já anotei para fazer a correção.

      Obrigado Chacon.

      Abs.

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  12. Na última questão eu achei 4π3+raiz(3)/2.

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  13. Ah, eu que me equivoquei. O resultado está certo =P

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