[Figura 1]
Antes de continuar a leitura deste artigo, sugiro que leiam sobre O Sistema de Coordenadas Polares escrito pelo Professor Mestre Paulo Sérgio, explanando brilhantemente sobre o assunto.
Para estabelecermos um sistema de coordenadas polares no plano, primeiro denotemos um ponto fixo O que será o pólo e um raio r, que é uma semirreta orientada com origem em O, que chamamos de eixo polar. Um ângulo na posição padrão tem vértice no pólo e o eixo polar como seu lado inicial.
Seja P um ponto genérico no plano e seja r a distância entre P e o pólo. Assim:
r=|¯OP|
Se P≠0, então P pertence a uma única semi-reta com origem em O constituindo o lado terminal do ângulo. Este ângulo é denotado por θ e poderá ser em graus ou em radianos. Assim, o par ordenado do ponto P em coordenadas polares é indicado como:
P=(r,θ)
As coordenadas polares estabelecem a posição de um ponto P em relação a uma grade, formada por círculos concêntricos com centro no pólo e semirretas partindo de O. O valor de r localiza P num círculo de raio r; o valor de θ localiza P numa semirreta que é o lado terminal do ângulo θ; e P é determinado pela intersecção do círculo com a semirreta.
O gráfico de uma equação polar consiste em todos os pontos P do plano que tem pelo menos um par de coordenadas polares (r,θ) satisfazendo a equação.
Da mesma forma que podemos determinar a área de uma região sob a curva num plano cartesiano aplicando o conceito de integral definida, podemos determinar a área de uma região plana em coordenadas polares compreendia entre as semirretas que determinam o ângulo θ.
Considere a figura abaixo, cuja equação polar é r=f(θ), onde f é uma função contínua. Quando θ cresce de θ=α para θ=β, o ponto P=(f(θ),θ) se desloca ao longo da curva polar de (f(α),α) para (f(β),β) e o segmento de reta OP percorre uma região plana. Esta é a região compreendida pela curva polar entre as semirretas que determinam o ângulo θ, ou seja, entre θ=α e θ=β.
[Figura 2]
[Figura 3]
AC=π r2
Assim, a área do setor ocupa a fração β−α2π de todo o círculo e a área do setor será:
A=π r2(β−α)2π=12r2(β−α)
Geralmente, mesmo que a curva polar não seja um círculo, quando o ângulo cresce de θ para θ+dθ, ou seja, tem uma variação infinitesimal, o segmento OP percorrerá uma região infinitesimal que podemos tomá-la como um setor infinitesimal de um círculo de raio r=f(θ):
[Figura 4]
dA=12|r2|dθ=12r2dθ=12[f(θ)]2dθ
Para que tenhamos a área total da região desejada, devemos somar estes infinitésimos, isto é, integramos as áreas de todos estes setores infinitesimais, desde θ=α a θ=β. Assim, teremos:
A=∫βαdA=∫βα12[f(θ)]2dθ=12∫βα[f(θ)]2dθ
Podemos representar esta fórmula sob a forma:
12∫βαr2dθ
Exemplo 1:
Encontrar a área do hemisfério superior da região compreendida pela curva polar cardioide, cuja equação é r=3(1+cos(θ)).
[Figura 5]
A=12∫βαr2dθ=12∫βα[3(1+cos(θ))]2dθ A=12∫βα9(1+2cos(θ)+cos2(θ))dθ A=92∫βα(1+2cos(θ)+cos2(θ))dθ A=92[(θ+2 sen(θ)+θ2+sen(2θ)4)]π0 A=92(π+0+π2+0) A=27π4 unidades de área
Exemplo 2:
Encontrar a área da região compreendida pela lemniscata de equação r2=4cos(2θ).
[Figura 6]
Vamos considerar somente 1/4 da lemniscata, já que é simétrica em relação ao pólo devido ao grau 2 de r. Assim, vamos considerar a porção da lemniscata para a qual:
r=2 √cos(2θ)
Quando θ=0 e r=2, e como θ cresce, o ponto P=(r,θ) se desloca para a esquerda ao longo da parte superior da lemniscata até chegar ao pólo O, quando θ=π/4. Assim, o segmento OP percorre um quarto da área:
A=4(A=12∫βαr2dθ)=2∫βαr2dθ A=2∫π/40(2√cos(2θ))2dθ=2∫π/404cos(2θ)dθ A=[4 sen(2θ)]π/40=4 unidades de área
Este exemplo mostra que devemos saber o comportamento da curva para que possamos definir os limites de integração.
Quando utilizamos a fórmula 12∫βαr2dθ para encontrar a área de uma região compreendida por uma curva polar r=f(θ) num intervalo Δθ, devemos estar certos que α≤β e que o segmento de reta radial OP, percorre apenas uma vez cada ponto no interior da região. Por exemplo, se quisermos determinar a área total no interior do limaçon r=2–3 sen(θ), seria incorreto integrar de 0 a 2π, pois quando θ vai de 0 a 2π, o segmento OP percorre duas vezes todos os pontos pertencentes ao laço interior.
Exemplo 3:
Encontrar a área do laço interior ao limaçon de equação r=2−3 sen(θ).
[Figura 7]
A=2[12∫π/2sen−1(2/3)(2−3 sen(θ))2dθ] A=∫π/2sen−1(2/3)(4−12 sen(θ)+9 sen2(θ))dθ A=[4θ+12cos(θ)+92θ−94sen(2θ)]π/2sen−1(2/3) A=17π4−[172sen−1(23)+12cos(sen−1(23))−94sen(2 sen−1(23))]
sendo:
cos(sen−1(23))=√53
e
sen(2 sen−1(2/3))=2 sen(sen−1(2/3))cos(sen−1(2/3))=4√59
Também ocorre com frequência a necessidade de encontrarmos a área de uma região plana compreendida por duas curvas, como por exemplo r=f(θ) e r=g(θ) entre dois pontos sucessivos de intersecção P1 e P2, onde P1=(r1,α) e P2=(r2,β):
[Figura 8]
Se a região compreendida pela curva r=g(θ) entre P1 e P2 está contida na região compreendida pela curva r=f(θ) entre P1 e P2, então a área desejada A é apenas a diferença de áreas das duas regiões:
A=12∫βα[f(θ)]2dθ−12∫βα[g(θ)]2dθ A=12∫βα[[f(θ)]2−[g(θ)]2]dθ
Exemplo 4:
Encontrar a área da região interior ao círculo r=4cos(θ), que seja exterior ao círculo r=2.
[Figura 9]
A=12∫π/3−π/3[(4cos(θ))2]dθ A=12∫π/3−π/3[16cos2(θ)−4]dθ A=12∫π/3−π/3[162(1+cos(2θ)−4)]dθ A=12∫π/3−π/3[4+8cos(2θ)]dθ A=[2(θ+2 sen(2θ))]π/3−π/3 A=2[(π3+√32)−(π3−√32)] A=4π3+2√3 unidades de área
Referências:
[1] Cálculo V1 - Munem-FoulisVeja mais:
O cálculo integralO sistema de coordenadas polares
Construção da espiral de Arquimedes com régua e compasso
Excelente post, muito bem explicado com figuras impecáveis. Para ficar perfeito corrige a palavra no Exmplo 3 "acrescer". Obrigado pela dupla citação do post sobre coordenadas polares. Irei alterar o post acrescentando também este link. Abraços.
ResponderExcluirAgrdeço Paulo pelo elogio. Dá um pouco de trabalho fazer estas imagens, mas no final, vale a pena. Vou corrigir o erro, obrigado.
ExcluirUm abraço.
Oi Kleber,
ResponderExcluirQuando comecei a ler seu artigo e quando dei por mim, já estava estudando seriamente, dado a clareza de exposição, de forma que, reforçei o que sabia, aprendi o que não sabia e ainda, aumentou minha convicção que O BARICENTRO DA MENTE é TOP 10! ( Não TOP 10 fatorial, mas dependendo do período, até mesmo TOP 10^0 . E que belos exemplos gráficos, a rosa de grandi, o limaçon de pascal, etc!!
Parabéns!
Aloísio, Obrigado por seu comentário. Um pouco exagerado, mas tudo bem. Obrigado amigo.
ExcluirKleber,
ResponderExcluirExcelente postagem. O Aloísio não exagera tanto assim não. Um artigo organizado como este facilita a compreensão. Um texto cheio de algoritmos desorganizados podem se tornar complicado mesmo para aqueles que dominam as teorias matemáticas.
Abraço!
PS:Estas figuras são construídas usando o Geogebra?
Olá Edigley,
ResponderExcluirObrigado pelo comentário e elogios. Procuro ser o mais didático possível.
A primeira imagem, da espiral de Arquimedes, foi feita no software "Régua e Compasso", similar ao Geogebra. As demais foram feitas no Corel Draw. Para a Cardióide, a Lemniscata e o Limaçon, plotei as imagens na Wolfram, colei no Corel, desenhei as imagens por cima para manter as curvas originais e depois apaguei a imagem colada. Aí é só exportar em jpg.
Abraços.
Ah, ok! É que encontrei um tutorial meio antigo do GeoGebra, onde é mostrado a construção de gráficos de funções derivadas e outros e pensei que iria gostar de atualizar ele.
ResponderExcluirAbraço!
Olá,gostei muito da explanação.Me ocorreu uma dúvida, no exemplo 2 , o qual seria a variação do ângulo θ para varrer toda a figura e não só 14 da figura? abraços
ResponderExcluirvocê não leu o artigo todo. Nele, diz que o segmento OP não pode passar duas vezes pelo mesmo ponto da curva. Se varrermos toda a figura, o segmento passará duas vezes pelo mesmo ponto.
ExcluirHá alguma outra forma de achar os limites de integração no Exemplo 3?
ResponderExcluirNão consegui entender pq o θ = sen–1(2/3) foi um desses limites...
Caso possível, meu email é brum.felipe@hotmail.com
Agradeço
Boa tarde prezados,
ResponderExcluirestou estudando aplicações de integrais e fiquei preso em um questão:
Uma construtora pretende fazer a fachada de um edifício cuja área é inferior a 2cm² e inferior a 1m², sabendo que a fachada é limitada por uma parábola que é inferior a 3m e por uma reta que é superior a 1m e que a parábola se encontra na parte posterior da fachada e a reta na parte inferior. calcule a área desta fachada.
estou maluco com essa questão, já tem dois dias que to tentando resolve-la.
Deildo, não entendi a questão.
ExcluirUma construtora pretende fazer a fachada de um edifício cuja área é inferior a 2m² e superior a 1m², sabendo que a fachada é limitada por uma parábola que é inferior a 3m e por uma reta que é superior a 1m e que a parábola se encontra na parte posterior da fachada e a reta na parte inferior. calcule a área desta fachada. Ai a questão certa
ExcluirUma construtora pretende fazer a fachada de um edifício cuja área é inferior a 2m² e superior a 1m², sabendo que a fachada é limitada por uma parábola que é inferior a 3m e por uma reta que é superior a 1m e que a parábola se encontra na parte posterior da fachada e a reta na parte inferior. calcule a área desta fachada.
ResponderExcluirArtigo perfeito e completo. Muito obrigado.
ResponderExcluirNo exemplo para calcular a área da figura de limaçon, na primeira linha, faltou elevar ao quadrado o termo (2-3senθ)
ResponderExcluirChacon Alex.
Passou despercebido essa. Já anotei para fazer a correção.
ExcluirObrigado Chacon.
Abs.
Na última questão eu achei 4π3+raiz(3)/2.
ResponderExcluirAh, eu que me equivoquei. O resultado está certo =P
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